De 1997 para 2006, o número de crianças que morreram nas estradas portuguesas diminuiu de 93 para 19. Os feridos graves, também menores de 16 anos, passaram de 699 para 198. A realidade melhorou, mas nem por isso a Associação para a Promoção da Segurança Infantil + (APSI) deixou de reforçar a sua própria vigilância sobre o fenómeno.
Durante seis meses, e nos 18 distritos do país, a APSI observou o transporte de 5300 crianças em ambiente urbano, à porta de escolas e creches, à hora de entrada. Os resultados do projecto "Segurança da criança no automóvel", ontem divulgados, mostram que 87,7% das crianças até aos 12 anos são transportadas com Sistemas de Retenção de Crianças (SRC). Mas alerta que só 65% são transportadas de forma adequada - e que, apesar de ser obrigatório por lei, 17% ainda viajam sem a cadeira de segurança.
Se as melhorias estatísticas são evidentes, nem por isso tiram o país da cauda da Europa. Os acidentes rodoviários continuam a ser a maior causa de morte e de incapacidade permanente em crianças e adolescentes, e até a causa directa de 50% do total de mortes até aos 12 anos. De acordo com a APSI, o uso correcto dos SRC reduz o risco de morte ou ferimentos graves entre 60 a 95%.
"As famílias ainda não interiorizaram que usar ou não um sistema de retenção pode fazer a diferença entre a vida e a morte", defendeu ontem à Imprensa, após a apresentação do estudo, a presidente da APSI, Sandra Nascimento.
A prová-lo, a avaliação de 387 SRC dos zero aos 12 anos revelou erros graves de utilização que poderão invalidar a eficácia do sistema e desproteger a criança em caso de acidente.
Nas cadeirinhas com arnês (cintos internos, usadas até aos 18 quilos) as técnicas da APSI detectaram erros graves e muito graves em 64,4% das situações - instalações incorrectas, modelos desadequados à idade e peso das crianças, até folgas excessivas nos cintos. Em relação aos bancos elevatórios com cadeiras de apoio, foram muitas as crianças (com mais de 3 anos) encontradas com os cintos por baixo do braço ou atrás das costas.
De costas até aos 18 meses
Um dos factos mais preocupantes para as dirigentes da APSI é os pais transportarem os bebés até aos 18 meses virados para a frente do trânsito. Entre os 6 e os 9 meses são mais de 40%. Em caso de acidente, o risco de morte é elevadíssimo nestes casos. Já o uso correcto dos sistemas de retenção tem uma eficácia de 95%.
Um dos motivos invocados pelos pais é o das crianças deixarem de caber nos chamados "ovos" muito cedo. Aos jornalistas, Helena Botte insistiu as cadeiras "do grupo 0+" estão preparadas para crianças até aos 13 quilos. Os modelos existentes no mercado não têm, no entanto, todos o mesmo tamanho e a escolha dos pais passa muitas vezes por critérios como o custo, padrões e marcas e não, por exemplo, por saber se a cadeira se ajusta ao automóvel.
Pedida baixa de IVA
A APSI entregou em Abril ao Governo um pedido de redução do IVA, para 5%, e de dedução em IRS + do preço das cadeirinhas. Ainda não recebeu qualquer resposta.
Testar antes de comprar
Quando comprar uma cadeirinha exija experimentá-la no seu carro. Há modelos que não se adaptam a todos os veículos. Helena Botte recomenda a procura nos stands porque há marcas com cadeirinhas já testadas.
Distrito a distrito
Porto, Coimbra, Setúbal, Beja e Faro foram os distritos onde a APSI verificou maior percentagem de uso das cadeirinhas (mais de 92%). Mas é em Lisboa, Leiria, Guarda e Santarém que o seu uso é feito mais correctamente.
Mais cuidados nas cidades
A conclusão foi "surpreendente", reconheceu a presidente da APSI as crianças são transportadas em maior segurança nas cidades (57%) do que nas auto-estradas (46%).
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