Dois estudos sobre os idosos portugueses, hoje conhecidos, traçam um retrato triste da população na velhice. Um inquérito quis conhecer as atitudes em relação à reforma em 26 países em todo o mundo. Outro revelou que triplicaram os casos de violência contra idosos em Portugal.
A população portuguesa na reforma tem das pensões mais baixas da Europa, logo a seguir à Hungria e República Checa, com uma diferença de 110 euros entre o valor que recebe e o que necessitaria para saldar as despesas domésticas. Em contra ciclo com outros povos europeus, os portugueses consideram que deveriam trabalhar menos anos.
Os activos apontam que a reforma deveria ser aos 58-59 anos e os reformados estimam que a idade legal deveria ser aos 62. Cinquenta e dois por cento dos portugueses na reforma, e que responderam ao inquérito, obteve a pensão antes da idade estipulada na lei e por vontade própria.
As expectativas dos portugueses, que apontam para um decréscimo da qualidade de vida quando chegar o momento da reforma, acabam por ser confirmadas com a saída do mercado laboral. O estudo revela que o nível de vida dos reformados portugueses está abaixo da média dos países da Europa Ocidental. O facto de seis em dez reformados terem uma pensão inferior ao último salário justifica esta queda de rendimentos.
Estes dados explicam, pois, que os portugueses, tal como italianos, húngaros e japoneses, associem à palavra “reforma” os substantivos “morte, velhice, doença e dificuldades financeiras”.
O quadro sócio-económico influencia o retrato formulado para a idade da reforma, com os meios rurais a apontaram maiores níveis de pessimismo e a classe média-alta com uma abordagem mais positiva. Metade dos respondentes, neste contexto sócio-económico, revela intenção de desempenhar uma actividade profissional remunerada na reforma.
Japão e França acompanham Portugal na baixa expectativa quanto à evolução da qualidade de vida. Para colmatar a questão, 78 por cento da população activa japonesa quer continuar a exercer uma actividade remunerada durante a reforma.
Os franceses são quem mais consegue concretizar os projectos de viajar numa situação de reforma. Projectos comuns à maior parte dos portugueses que participaram no estudo, mas que não chegam a sair do papel. O apoio à família acaba por ser a principal ocupação dos idosos lusos. Contudo, o investimento em planos de baixo risco e um rendimento mínimo, assim como o planeamento da reforma com pouca antecipação (em comparação com outros povos europeus) poderão explicar que sejam os avós portugueses a mais esperarem ajuda financeira dos filhos.
Os futuros reformados portugueses dizem estarem pouco informados quanto ao valor da pensão, consideram que os sistemas sociais são uma tarefa do Estado, mas a partir de um acidente ou problema de saúde acabam por iniciar um plano de poupança acentuado, superior ao efectuado na França e Bélgica, apesar dos mais baixos rendimentos.
A Segurança Social + portuguesa está numa situação caótica, com um índice negativo acima da média da Europa Ocidental e Central. O Japão lidera a lista do pessimismo numa avaliação do próprio sistema de Segurança Social, em que 98 por cento dos activos e 94 por cento dos reformados avaliam o seu sistema como caótico.
Os recursos financeiros e a saúde são apontados como factores de felicidade pelos reformados portugueses.
O estudo consistiu em 18.114 entrevistas telefónicas, realizadas em 26 países, pelo quarto ano consecutivo para a AXA Seguros pela GFK Metris, entre meados de Julhos e início de Agosto de 2007. O objectivo do estudo é “analisar e perceber as atitudes em relação à reforma, comparar a percepção e a realidade dos activos versus reformados ou em reforma antecipada e analisar os resultados de Portugal de um ponto de vista internacional”.
Violência contra idosos aumenta em Portugal
Os crimes de violência a vítimas com mais de 64 anos aumentaram de oito para 25 mil nos últimos cinco anos revela um outro estudo, que cita dados da Polícia de Segurança Pública + (PSP). O aumento das denúncias pode constituir uma explicação para a elevada subida dos números da violência, sustentou fonte da PSP ao "Diário de Notícias".
“Os idosos são vítimas silenciosas, já que não apresentam queixa por medo”, explicou fonte da Procuradoria-Geral da República. O gabinete de Pinto Monteiro recebe centenas de denúncias de casos de violência contra idosos. O procurador vai pedir às distritais de Lisboa, Porto, Évora e Coimbra para alertar autarquias, juntas e Segurança Social que denunciem os casos que cheguem ao seu conhecimento.
Pinto Monteiro disse que em 2008 será prioritário combater a violência nos idosos. “Não há nenhuma crítica que me faça desistir do meu caminho” e o facto de serem poucas as denúncias de violência nos idosos explica que a necessidade e urgência em “tomar medidas”.
A agressão a idosos reveste-se de variadas formas: negligência nos Cuidados de saúde + e abandono, abusos físicos, maus tratos psicológicos, negligência por abandono, negligência por administração de doses erradas de medicamentos para acalmar o idoso, negligência nos cuidados de saúde, abuso sexual e tentativas de extorsão de dinheiro (em casos de filhos com pais pouco lúcidos)
O estudo “Violência contra os mais velhos. Uma realidade escondida” foi realizado pelas psicólogas Cristina Verde e Ana Almeida. Citadas pelo “Diário de Notícias”, as investigadoras concluíram que “quanto maior for o índice de dependência do idoso e a precariedade social, mais provável é ocorrerem situações de maus tratos”.
Fonte: RTP /Agência Lusa