Saturday, February 16, 2008

A TEORIA DA RELATIVIDADE NO COLESTROL

Se é verdade que na biologia nem tudo é simples nem linear também é verdade que existem algumas ideias simples e gerais que toda a gente assimila e pelas quais se guia. Por exemplo, todos sabemos que no que diz respeito ao colesterol, existem os "bons" (HDL + – lipoproteínas de elevada densidade) e os "maus" da fita (LDL + – lipoproteínas de baixa densidade). Por outro lado, é também do conhecimento da generalidade da população que a recorrente presença em teores elevados de colesterol (o "mau" - LDL) no sangue acarreta elevados riscos de saúde, nomeadamente aumenta o risco de graves complicações ao nível das Doenças cardiovasculares + . De acordo?... – Bem, nem por isso..



Durante décadas o enquadramento do tratamento da medicina nesta questão do colesterol era simples: os maus da fita são realmente importantes e é com eles que temos de nos preocupar e combater (suponho mesmo que se ainda hoje visitarem o vosso médico a informação disponível irá nesse sentido...). Nessa perspectiva, os tratamentos foram desenhados e focalizados no combate aos níveis do "mau" colesterol – LDL. De imediato, largas quantidades de fundos foram direccionados para descobrir drogas capazes de baixar drasticamente os teores do "mau" colesterol circulante no sangue.




A linha de raciocínio era muito simples: diminuindo os níveis do "mau" colesterol – LDL, resultaria numa diminuição directa e considerável nos riscos de doenças cardiovasculares e consequentemente a taxa de mortalidade diminuiria drasticamente. De facto, todos os grandes grupos farmacêuticos enquadravam os seus medicamentos "anti-colesterol" numa visão mais abrange (e nada inocente) como drogas de combate a doenças cardiovasculares. Infelizmente as coisas não são assim tão simples e directas.




Muito recentemente, uma série de estudos internos da empresa farmacêutica norte-americana Merck foi publicada (finalmente... após cerca de dois anos de rumores e sigilo). Os dados de imediato tiveram larga publicidade na imprensa médica pois concluíam que não existia nenhuma relação directa entre a diminuição dos níveis do "mau" colesterol – LDL e a diminuição da taxa de mortalidade associada com as doenças cardiovasculares. Ou seja, o colesterol ("o mau") baixava de facto mas as pessoas continuavam a morrer de doenças cardiovasculares da mesma forma e ritmo. O raciocínio médico estava incorrecto: o baixo colesterol também mata na mesma escala que o alto colesterol.




De imediato, soaram alarmes em toda a indústria farmacêutica resultando nos mais variados níveis de acesas discussões entre os diferentes intermediários dos Cuidados de saúde + (indústria, clínicos, cientistas, reguladores governamentais). Estas discussões têm crescido de tom e de nível, num ritmo quase diário, dando a impressão de que o tema vai engordando e ficando mais extremado à medida que o tempo passa.





Ora um dia são páginas inteiras de jornais em publicidade paga pelas industrias farmacêuticas defendendo a importância do seu medicamento como uma forma eficaz de diminuir os níveis de colesterol, ora noutro dia aparecem os reguladores a afirmarem que novos e exaustivos estudos serão efectuados muito em breve e que provavelmente o enquadramento da forma de como estes medicamentos têm sido publicitados tem de ser alterado.





E eis que no meio desta tempestade de argumentos nasce a ideia da teoria da relatividade no colesterol. Os níveis de colesterol são relativos e dependem da perspectiva com que se analisa, mas principalmente deve-se ter em mente de que existem varias dimensões no problema do colesterol. É útil manter os níveis do "mau" colesterol baixos, mas ao mesmo tempo é também importante balancear estes níveis baixos do mau com elevados níveis do "bom" colesterol (HDL).





Mas nada de extremos, pois houve também em tempos a ideia de que ao elevar os níveis do "bom" colesterol resultaria uma diminuição da taxa de mortalidade associada com doenças cardiovascular. No entanto, em vez de diminuir constatou-se que a taxa de mortalidade até subiu... No fundo, a teoria da relatividade no colesterol também nos relembra que é importante (crucial, diria mesmo...) prestar atenção aos Hábitos alimentares + , actividade física, controlo do peso – todos factores críticos para manter os níveis de colesterol equilibrados e saudáveis.




Sinceramente e por estranho que ate possa parecer, considero que a actual discussão associada ao colesterol irá ter um efeito benéfico para as pessoas. Esta constatação de que o baixo colesterol mata da mesma forma que o alto colesterol responsabiliza mais as pessoas a terem atenção ao tipo de vida que levam pois, de facto, as pessoas facilmente descuram e até mal tratam a sua saúde quando sabem que existe uma "pílula milagrosa" que os vai ajudar mais tarde.




Por outro lado, são também boas noticias para a ciência em geral, biologia em particular, por se verificar que mais uma ortodoxia cientifica foi e ainda está a ser desafiada. Apenas demonstra que os mecanismos de teste na ciência funcionam levando à sua constante evolução e resultando na ausência de dogmas artificiais.
Fonte: Fábrica de Conteúdos

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