Dr. Ramalho Almeida
Entre as doenças que nos preocupam mais neste início de século, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é a que se afigura mais problemática e de maior dificuldade em controlar, pelo número exponencial de doentes que, ano a ano, engrossam o universo desta enfermidade particular.
Neste princípio do século XXI, é já a quinta principal causa de morte no mundo e, em 2020, prevê-se que seja a terceira. Sendo assim, será mais destruidora que o cancro do pulmão, o enfarte de miocárdio e as infecções respiratórias.
A situação estende-se a todo o Mundo civilizado e a tendência será para agravar nos próximos anos, enquanto o fumo do tabaco, a poluição nas suas múltiplas vertentes, as infecções respiratórias e as modificações climatéricas que se revelam preocupantes, não estabilizarem.
Atribui-se ao fumo do tabaco a maior responsabilidade no aparecimento desta doença, que evolui lentamente sobre os brônquios e os pulmões de forma traiçoeira, para se mostrar subitamente numa altura em que pouco há a fazer para benefício do doente. Por isso, a grande aposta é encontrar a doença numa fase inicial.
600 mil doentes em Portugal
Em Portugal num estudo recente, realizado por especialistas, chegou-se à conclusão que existem cerca de 600 mil doentes, distribuídos por escalões de gravidade variável, desde os mais simples e com bom prognóstico, até aos mais graves, sem qualquer hipótese de melhorar a sua qualidade de vida, num percurso que os vai levar à morte, quase sempre em grande sofrimento respiratório.
Existe um crescimento sustentado na incidência da doença, pois apesar de muitos doentes de DPOC morrerem anualmente, outros novos, e em número superior, vão integrando este universo.
Chegou agora a vez de Portugal restringir o fumo do tabaco em locais públicos, com medidas que podem ser discutíveis, mas convenhamos necessárias, pela urgência em inverter um problema de saúde pública, que tem uma repercussão notável no contexto desta enfermidade.
Aos médicos cabe, no universo dos seus doentes, ajudar a vencer o hábito tabágico, e procurar os potenciais DPOCs ainda em fase acessível a um tratamento eficaz. E não é difícil.
Em Portugal, o DPOC típico é homem, entre 40 / 55 anos, fumador há mais de 25 anos. Se a isto juntarmos uma tosse, mesmo que seja a “sua tosse habitual”, temos muitas probabilidades de deparar com um caso. Para confirmar há que pedir um simples exame: uma espirometria.
Agora também começa ser frequente na mulher, fumadora, dentro do mesmo escalão etário, mas com alguns sinais acessórios para lá da tosse, como o cansaço fácil ao fazer as tarefas habituais, de casa ou profissionais. O percurso irá ser idêntico à doença nos homens.
Às vezes, o diagnóstico vai surpreender o doente que o acolhe com alguma surpresa e cepticismo, pois sempre se conheceu assim. Pois bem, é nessa fase, que é possível inverter o caminho da doença que evolui fatalmente para uma morte dramática, em asfixia, se não se interrompe o percurso.
Vale a pena o nosso esforço, médicos e utentes, no sentido de fechar as portas a uma doença altamente preocupante, e que quando se instala, evolui de forma dramática, se não for parada a tempo, para uma morte terrível.
Fonte: Jornal do Centro de Saúde