Thursday, October 30, 2008

ANEURISMA DA AORTA ABDOMINAL: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO



Dr. Rui Almeida


A aorta é a artéria que recebe todo o sangue ejectado pelo ventrículo esquerdo do coração e é dela que têm origem todas as artérias que levam sangue arterial a todas as partes do corpo.





Inicia-se logo após a válvula aórtica do coração, desce do tórax para o abdómen junto à coluna. Ao nível que corresponde ao do umbigo, a aorta divide-se em duas artérias, as ilíacas, que levam o sangue para os membros inferiores.




Conforme vamos envelhecendo, envelhece também a parede das artérias, sob a forma de aterosclerose. A aterosclerose origina um espessamento da parede das artérias que pode resultar numa redução do calibre (estenose) até à oclusão total. Por vezes as artérias em vez de se estreitarem, dilatam--se e aumentam o seu calibre em mais de 50%, formando-se assim um aneurisma.




A localização mais frequente desta dilatação é na aorta abdominal, abaixo da saída das artérias que irrigam os rins. Raramente o aneurisma da aorta abdominal (AAA) dá sintomas. As pessoas magras poderão sentir uma pulsatilidade anormal no abdómen ao nível do umbigo. Frequentemente formam-se coágulos dentro dos aneurismas.




Estes coágulos podem obstruir completamente a aorta ou desprender-se e obstruir as artérias dos membros inferiores, provocando isquemia (falta de irrigação). O aneurisma pode ainda, se crescer muito, comprimir o intestino e as vias urinárias provocando dor abdominal ou lombar.




É frequente que os primeiros sintomas de um AAA surjam só quando este rompe. Dor na região dorsal e lombar, "suores frios", palidez, desmaio acompanhado de tensão arterial progressivamente baixa, são sinais de ruptura do aneurisma com perda de sangue para dentro do abdómen, e que muitas vezes são causa de morte súbita.




Quando um médico palpa o abdómen do doente poderá fazer o diagnóstico que será mais difícil em situação de aneurismas pequenos ou de obesidade abdominal. A ecografia abdominal confirmará o diagnóstico.




Pessoas com mais de 65 anos, fumadores, hipertensos, com colesterol alto, antecedentes familiares de AAA ou com doença das artérias dos membros inferiores, devem fazer uma ecografia de rastreio do AAA. A principal razão do tratamento do aneurisma é evitar a ruptura, que tem uma mortalidade operatória superior a 50%.



Há mais de 50 anos que esta cirurgia se realiza, quase sempre através de uma longa incisão abdominal, abertura do aneurisma depois de interromper a circulação na aorta acima do aneurisma, e colocação de um tubo de tecido (prótese) que substitui o segmento da aorta dilatado, e que é fixado com pontos acima e abaixo do aneurisma.




A taxa de complicações desta cirurgia é inferior a 15% e o risco de morte ronda os 5%. É realizada com anestesia geral e o doente passa um ou dois dias na unidade de cuidados intensivos.




Desde a década de 90 que existe um tratamento que não implica anestesia geral e abertura do abdómen. Com introdução de uns tubos através das artérias femorais (nas virilhas) sob anestesia local ou epidural (na coluna) é possível colocar dentro da aorta, próteses que se fixam através de anéis auto-expansíveis de metal e isolam o aneurisma (cirurgia endovascular).




Apesar dos bons resultados e da menor agressividade desta técnica, a sua relativa novidade, não nos permite estabelecer a sua durabilidade a longo prazo, pelo que só se aplica a doentes mais idosos ou com outros problemas de saúde associados, que aumentam o risco da cirurgia clássica.




Em Portugal, os Serviços de Cirurgia Vascular praticam de uma forma geral quer um quer outro destes procedimentos, com muito bons resultados.





Nem todos os AAAs têm de ser imediatamente operados. Aneurismas com menos de 4cm podem ser mantidos em observação, a menos que cresçam mais de um centímetro num ano. Só a partir dos 5,5 cm no homem e 5cm na mulher, em quem são menos frequentes, se põe a indicação cirúrgica, que é o único tratamento curativo.





Dr. Rui Almeida,

Médico de Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar do Porto

Hospital de Santo António









Fonte: Saúde em Revista

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