Tuesday, November 4, 2008

INFECÇÃO POR HPV



Dr. Daniel Pereira da Silva,


O cancro do colo do útero tem uma incidência muito alta em Portugal no contexto da Europa dos quinze. Tal facto é consequência da ausência de programas de rastreio organizados em todo o país. A região centro tem um programa em curso desde 1990, por isso apresenta uma taxa de incidência muito mais baixa que o resto do país.





A história natural deste cancro é bem conhecida. O principal responsável é o vírus do papiloma humano de alto risco (HPV). Numa 1ª fase o vírus infecta as células do colo do útero e depois, perante determinadas condições, transforma-as progressivamente numa célula cancerosa. Na maior parte dos casos, esta evolução acontece sem qualquer sintoma, sem qualquer sinal.




As infecções pelo HPV são a doença sexualmente transmissível mais frequente na Europa. Em mulheres sexualmente activas, alguns estudos demonstram uma prevalência de 70%, o que é muito elucidativo da facilidade com que transmite. Não são necessários comportamentos considerados de risco para que uma mulher possa entrar em contacto com o vírus e adquirir a infecção.




O vírus propaga-se com extrema facilidade através das relações sexuais, mas não é indispensável que haja penetração, basta um contacto da zona genital com o vírus. A infecção, por si só não representa uma ameaça grave, na medida em que na maior parte dos casos (95%) é debelada pelas defesas naturais, sem consequências.




O problema está, que não é possível distinguir à partida os 5% em que corre mal. Por isso é fundamental a prevenção com a vacina e o rastreio. Em Portugal te-mos cerca de 2.850.000 mulheres que deviam fazer regularmente um rastreio com citologia. Destas 20 a 30% fazem citologias todos os anos, às vezes mais de uma vez por ano.




As restantes nunca o fizeram ou fazem-no erraticamente, sem método, sem rigor! É sobretudo neste grupo que vamos encontrar os cerca de 960 novos casos de cancro invasivo que diagnosticamos todos os anos. Destas cerca de 360 vão morrer, porque a doença é detectada numa fase tão avançada, que a cura não é possível! No pro-grama de rastreio da região centro 90% das mulheres com cancro invasivo do colo não fazem uma citologia há mais de 5 anos!




São factos preocupantes, fruto da falta de visão estratégica do Ministério da Saúde durante muitos anos, que finalmente mereceu outra atenção pela equipa de Correia de Campos, que importa saudar. Organizar programas de rastreio em todo o território nacional é premente. Esperamos que a ministra recentemente empossada inclua nas prioridades do seu ministério esta necessidade.




Uma nova e promissora expectativa foi aberta com o advento da vacina. Duas estão disponíveis nas farmácias. Ambas protegem contra o HPV 16 e 18, que são responsáveis por cerca de 75% dos casos de cancro do colo do útero. Uma delas é quadrivalente, porque protege também contra o HPV 6 e 11, que é responsável por 90% dos condilomas genitais e pode proporcionar outros benefícios potenciais diminuindo a frequência de lesões pré-cancerosas genitais e doenças graves da laringe. O Ministério da Saúde decidiu incluir a vacina no plano nacional de vacinação, tornando-a de uso universal e gratuita para toda a população envolvida: jovens com 13 anos em 2008; jovens com 13 e 17 anos em 2009, 2010 e 2011, seguindo-se então só as adolescentes com 13 anos.




Algumas vozes críticas disseram que o universo de jovens envolvidas deveria ser alargado, mas manda o bom-senso reconhecer que se trata de uma medida muito positiva, que implica um esforço financeiro significativo. A grande dúvida permanece para as jovens que não vão ser incluídas no plano nacional de vacinação. Haverá ou não comparticipação?
Seja como for, importa salientar que a vacina não cobre todas as hipóteses. Para as vacinadas e não vacinadas o rastreio é indispensável.





Uma pequena nota pessoal: - Se não faz uma citologia há mais de 3 anos, procure já o seu médico.





Dr. Daniel Pereira da Silva,
Director do Serviço de Ginecologia,
IPO Coimbra

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