Monday, October 20, 2008

DEPRESSÃO PÓS-PARTO


Depressão Pós-Parto



A gravidez e o pós-parto correspondem a períodos de alta vulnerabilidade para a mulher. São razões sobretudo biológicas ligadas às modificações endócrinas e às alterações do esquema corporal, mas também estão presentes razões psicológicas ligadas ao sentimento de maternidade e às experiências negativas de gravidezes anteriores.





Os quadros clínicos mais frequentes nestes períodos são as alterações depressivas de pequena intensidade (50-85% dos casos), muito embora as psicoses pós-parto, sendo raras (0,1-0,2%), constituem um quadro de grande emergência psiquiátrica.




Em termos psiquiátricos o pós-parto ou puerpério corresponde ao período que se estende desde o parto até aos 6 meses seguintes. Abarca portanto o pós-parto bem como parte do período de lactação.




As depressões que ocorrem neste período são em geral de dois tipos de gravidade: as ligeiras e as muito graves.




As primeiras, mais frequentes em mulheres primíparas, caracterizam-se por acentuado cansaço e falta de energia, choro fácil, sintomas corporais vagos e generalizados, pessimismo, dificuldade de concentração, insónias e tristeza acentuada, com flutuações do humor ao longo do dia e acompanhados por preocupações exageradas relacionadas com os cuidados com o filho. A este propósito convém referir a importância das manifestações da criança, já que funciona como um "emissor sintomático" das alterações psicológicas da mãe traduzidas na alteração da relação mãe-filho.




De entre as manifestações sintomáticas da criança, os quadros de tipo digestivo (que constituem nesta fase o meio preferencial de comunicação do recém-nascido com o mundo exterior), quer apresentando-se como rejeições alimentares, quer como aumento da ingestão de alimentos, com as consequentes deglutições maciças de ar, são um código de sintomas importante a descodificar, no sentido das alterações psicológicas maternas.




Apesar disso, estas depressões são normalmente benignas, ocorrem entre o 3º e o 6º dia do puerpério e por isso designam-se por síndroma do 3º dia e necessitam de tratamento psicológico e farmacológico adequado. Não apresentando uma ligação evidente com as alterações hormonais em curso, estão mais relacionadas com os acontecimentos de vida e com o stress social a que a mulher está sujeita, sendo por isso muito influenciadas por tratamentos psicológicos e por acções de pedagogia da saúde. Assumem grande importância pelas consequências sobre o desenvolvimento do recém-nascido, pelo que apesar de ligeiras devem merecer um especial cuidado.




As segundas, as depressões graves, são mais raras (1 a 2%), têm um curso dependente das alterações metabólicas que estão a ocorrer, constituindo verdadeiras psicoses puerperais que necessitam de internamento urgente. Este tipo de depressões ocorre, na grande maioria dos casos, durante o 1º mês após o parto. O sintoma saliente é a confusão mental, mas apresenta um conjunto de sinais precursores aos quais se deve prestar atenção (insónia grave, inquietação motora marcada, irritabilidade muito intensa, frequentes alternâncias do humor e profunda desmotivação). Uma complicação grave destes quadros clínicos é o grande risco de suicídio. Em casos raros existe também o risco de infanticídio.







Esta fase da vida da mulher está, de facto, associada a um grande número de admissões nos serviços de psiquiatria por quadros psicóticos de ocorrência durante o 1º mês após o parto. Se bem que as depressões bipolares façam parte deste leque de quadros psicóticos não constituem, contudo, a sua maioria. Esta, é constituída por outras situações psicóticas, a maior parte das vezes atípicas, que eclodem geralmente em mulheres com uma história de patologia psiquiátrica anterior ou até familiar.




Dados recentes da investigação indicam que estes estados não são de origem psicológica mas sim hormonal, tendo por isso alguns autores sugerido que o parto constitui o factor principal para explicar a maior incidência de estados depressivos no sexo feminino, apoiados em estudos que demonstraram que a incidência da depressão psicótica em mulheres sem filhos ser semelhante à dos homens. Independentemente dos argumentos po-derem ser contestados, o que é verdade é que estas depressões graves constituem quadros clínicos que ameaçam a vida da mulher e a do seu filho. Por isso, devem merecer um cuidado muito especial por parte dos familiares que têm obrigação de as reportar aos seus médicos assistentes.





J. Marques Teixeira,

Professor da Universidade do Porto e Director do NeuroBios

Instituto de Neurociências, Diagnóstico e Reabilitação Integrada.





Fonte: Saúde em Revista

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