Thursday, March 6, 2008

QUANDO A BEXIGA NÃO PÁRA

Andreia Pereira

A dificuldade em controlar a vontade súbita de urinar constitui um verdadeiro tormento diário para quem sofre de incontinência urinária. As visitas constantes à casa de banho e o medo de não chegar a tempo assolam o quotidiano de quem se depara com este problema. Porém, certos casos são passíveis de cura, através de uma cirurgia realizada em 10 minutos.




A incontinência urinária pode ser definida como a perda involuntária de urina. Apesar de não haver números concretos, estima-se que, em termos gerais, pelo menos 3 milhões de pessoas já terão sofrido, em algum momento da sua vida, pequenos derrames urinários. E por que razão isto acontece?




Segundo o Prof. Paulo Dinis, presidente da Associação Portuguesa de Neurourologia e Uroginecologia (APNUG), esta situação deve-se ao enfraquecimento do esfíncter: um mecanismo de contenção da urina. “Quando este músculo de retenção se encontra fragilizado, a pressão abdominal aumentada pode gerar perdas involuntárias de urina, em determinadas circunstâncias: fazer esforços, levantar pesos, tossir, subir escadas, espirrar. Esta é a típica situação de incontinência urinária de esforço.”



Existe, ainda, um outro fenómeno de incontinência urinária, que se designa por imperiosidade. Nesta situação, a bexiga (um músculo que alarga, quando está vazia, e encolhe quando está cheia) contrai-se involuntariamente. Um mero estímulo, como molhar as mãos, colocar a chave na porta ou em situações de stresse, pode provocar uma vontade súbita e repentina de urinar, sem que a pessoa tenha tempo de se deslocar à casa de banho.



Um estudo de 2005, realizado pela Spirituc, indica que, em Portugal, cerca de 650 mil pessoas sofrem deste problema, na sua grande maioria mulheres. Contudo, alguns doentes escondem esta preocupação, porque assumem que a incontinência é um problema relacionado com o avanço da idade. E, deste modo, não procuram ajuda clínica. “Calcula-se que apenas 10 a 15% dos doentes estão adequadamente tratados”, diz Paulo Dinis.





Implicações da IU




A Organização Mundial de Saúde (OMS), para além de definir a incontinência urinária como uma dificuldade em controlar as perdas involuntárias de urina, indica, ainda, que se trata de uma questão de higiene, com impacto pessoal e social. “A incontinência urinária subtrai qualidade de vida destes doentes, provocando algumas limitações laborais, sociais, no desempenho sexual e no bem-estar psicológico”, defende Paulo Dinis.



O dia-a-dia do doente “passa a ser gerido em função das idas à casa de banho”, acrescenta o urologista. E avança com um exemplo: “Imagine-se um gestor que sofre deste problema. A dada altura, se estiver numa reunião de trabalho, terá de abandonar a sala porque teve um episódio de imperiosidade, que pode conduzir à incontinência.”



As situações de imperiosidade podem ser, na perspectiva do presidente da APNUG, “altamente perturbadoras”, quando comparadas com a incontinência urinária de esforço. “Se a pessoa tosse ou espirra, é esperado que possa ter perdas de urina. No outro tipo de incontinência, devido à sua imprevisibilidade, nunca se sabe quando é o episódio poderá ocorrer.”



Deste modo, Paulo Dinis desmistifica esta doença e garante que “não se trata de uma fatalidade, até porque, na maior parte dos casos, tem tratamento”. No entanto, este problema continua a ser encarado como um tabu. “É preciso anular algumas ideias preconcebidas e explicar à população que existe solução para a incontinência urinária e, em determinadas situações, é até possível oferecer a cura. Se não forem encetadas medidas de controlo, esta patologia pode empurrar o doente para o isolamento e depressão”, ressalva o urologista.



Os doentes com incontinência por imperiosidade “tendem a defender-se dos ‘ataques surpresa’ da micção involuntária e, à custa de episódios inesperados, aumentam a frequências da micção, ou seja, passam a vida a correr para a casa de banho. Estes são os doentes, com frequência diurna e nocturna, que, na grande parte das vezes, têm de interromper o seu sono e levantarem-se para urinar.”





Cirurgia em 10 minutos



A primeira abordagem do tratamento da incontinência urinária, nos casos ligeiros e moderados “deve ser sempre através da fisioterapia, tentando o fortalecimento da musculatura pélvica”. Não se obtendo resultados com esta técnica de reabilitação, “existem possibilidades cirúrgicas, através das quais é permitido curar o doente”.



Esta cirurgia, como explica o urologista, não obriga a internamento, pelo que a pessoa pode obter alta no mesmo dia em que é sujeita a esta intervenção. A taxa de sucesso desta técnica cirúrgica “ronda os 85-90%, nas situações de incontinência urinária de esforço” (ver caixa). No caso da incontinência urinária por imperiosidade, “existem fármacos que garantem o controlo de 70 a 80% das situações deste tipo”, adianta o especialista. Estes medicamentos ajudam a reduzir a “excitabilidade do músculo da bexiga e evitam, assim, a contracção involuntária, que provoca as perdas de urina”.



A par destas soluções, há, ainda, a possibilidade de aplicar tratamentos intra-vesicais, que consistem na “aplicação de fármacos dentro da bexiga”. Este líquido injectável vai “acalmar a bexiga e permitir que o doente não tenha uma contracção vesical súbita, nas situações de incontinência por imperiosidade”. Nestes casos, é, ainda, possível “educar a bexiga”, através da micção temporizada. “O doente calcula a frequência e o período da micção. Se a pessoa indicar que consegue aguentar cerca de quatro horas, então, pedimos para proceda à micção meia hora antes.”





Diagnóstico da incontinência




O diagnóstico desta patologia faz-se por intermédio do historial clínico do doente. Para além disso, efectua-se um exame físico, que, “através da na realização de diferentes manobras, permite identificar o tipo de incontinência urinária”, refere Paulo Dinis. Os restantes exames clínicos englobam as análises gerais, as análises de urina e uma ecografia.





Como funciona a técnica TVT?




Cirurgia “simples”, realizada em ambulatório, com uma taxa de cura que se situa entre os 85 a 90%. Esta intervenção implica uma “incisão de um centímetro, na parede da vagina, por onde se coloca uma fita [rede feita de material sintético], por debaixo da uretra, que vai reforçar estas estruturas de contenção”. No entanto, ressalva Paulo Dinis, antes da cirurgia, a primeira opção clínica deve ser a fisioterapia, para fortalecimento dos músculos pélvicos.






Fonte: Jornal do Centro de Saúde

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