Friday, March 7, 2008

APRENDER A LIDAR COM A EPILEPSIA


Cláudia Pinto



A epilepsia nem sempre foi considerada uma doença. Na Antiguidade, chegou a ser associada a vários mitos e crenças. Apesar do maior conhecimento e de haver cada vez mais informação disponível, ainda existem alguns preconceitos associados à epilepsia. Sendo uma das doenças neurológicas mais frequentes, torna-se necessário conhecê-la e saber como lidar com ela. A epilepsia tem tratamento e são conhecidos casos de sucesso e curáveis.




Longe vão os tempos em que a epilepsia era associada a vários mitos. As pessoas não conheciam a sua origem e, por esse motivo, arranjavam causas sobrenaturais para explicar a doença.



“As teses mais antigas indicavam que a epilepsia era provocada por demónios”, diz-nos o Dr. Francisco Pinto, consultor de epilepsia do Hospital Fernando da Fonseca e Presidente Cessante da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia (LPCE). Na Mesopotâmia, considerava-se que a epilepsia era provocada pelo Deus da Lua. “Também no Egipto, pensava-se que era um demónio ou um espírito de uma pessoa morta que entrava no corpo da pessoa com epilepsia”.



É conhecida igualmente uma referência semelhante na Bíblia. “Pensava-se que o espírito entrava no corpo de uma pessoa e era retirado através de exorcismos”. Por este motivo, as pessoas com epilepsia eram conhecidas como “demoníacas” e considerava-se que poderiam contagiar outras pessoas.




Hipócrates foi o primeiro a encarar a epilepsia como uma doença, muitos anos antes de Cristo. Foi ele quem afirmou que esta era uma doença “como todas as outras, provocada por causas naturais e que só desconhecimento das pessoas levaria à origem de vários mitos”, afirma o consultor de epilepsia do Hospital Fernando da Fonseca. Para o pai da medicina, a origem desta doença estava no cérebro.





Epilepsia ou epilepsias?



Vários séculos depois, ainda existe bastante desinformação e alguns preconceitos relacionados com esta doença. Como se define afinal a epilepsia? “É uma descarga eléctrica que se dá no cérebro”, explica Francisco Pinto. Qualquer pessoa pode sofrer um ataque epiléptico. “Uma em cada vinte pessoas tem uma crise isolada durante a sua vida”, defende a LPCE.



Sendo caracterizada pela repetição espontânea de crises epilépticas, “a epilepsia é um termo que engloba múltiplas manifestações anormais do comportamento cerebral, mas sempre sob a forma de crises epilépticas que se repetem espontaneamente”, explica o Dr. José Lopes Lima, Presidente da LPCE.




Se a descarga eléctrica for generalizada, “entramos no grupo das epilepsias generalizadas, sendo a mais frequente a ‘crise de grande mal’. Se a descarga for a nível local, ou seja, apenas no cérebro, estamos perante o grupo das epilepsias parciais”, afirma Francisco Pinto. Na “crise de grande mal”, também vulgarmente conhecida por convulsões, a pessoa perde subitamente o conhecimento, pode urinar-se, espumar pela boca, morder a língua, recuperando após esse episódio.



A fase de convulsões dura cerca de dois minutos e a recuperação é rápida. “Claro que estas crises parecem uma eternidade para as pessoas que assistem e que rodeiam o paciente”. São ainda de referir “as ausências próprias das crianças, que ficam paradas repentinamente, num espaço de 15 a 20 segundos, fazem um sorriso e voltam ao que estavam a fazer sem se recordarem do que aconteceu”.




Estes episódios são semelhantes aos que acontecem nas “crises focais complexas”. Geralmente, começam com um mal-estar abdominal, a pessoa fica parada, faz movimentos automáticos e a crise pára, sem que a pessoa se lembre do que se sucedeu”, defende Francisco Pinto.



Existem também vários tipos de crises e de causas de epilepsia. “Há crises em que não é preciso fazer nada. No entanto, na sua maioria, existe uma alteração do estado de consciência, pelo que o doente não tem um completo controlo da sua vontade, podendo comportar-se de forma estranha e não adequada ao contexto.




Deveremos assegurar-nos que o doente não está exposto a situações perigosas que podem pôr em risco a sua integridade”, diz-nos o Dr. Francisco Sales, neurologista e responsável pela consulta de epilepsia dos Hospitais da Universidade de Coimbra. As crises mais dramáticas são as convulsões, “quando o doente inconsciente tem inicialmente uma contracção violenta de todo o corpo seguida de abalos musculares ritmados também generalizados”.






Fonte: Jornal do Centro de Saúde

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