Tuesday, March 11, 2008

O PANORAMA DA REABILITAÇÃO CARDÍACA




Dr. Jorge A. Ruivo





A esperança de vida da população portuguesa aumentou, fruto da melhoria das condições de vida das comunidades. Por outro lado, estamos a comer mais e de uma forma menos saudável, para não falar do facto de o carro, a televisão e o computador nos terem afastado do exercício físico. Como consequência assistimos a um aumento assinalável do número de obesos e da prevalência da doença cardiovascular.




A Reabilitação cardíaca (RC) tem mostrado ser uma valiosa arma terapêutica em indivíduos com doença cardiovascular, nomeadamente no que se refere à capacidade funcional, controlo dos factores de risco global, lentificação do processo aterosclerótico, aumento do limiar de isquémia com melhoria dos sintomas de angina, e mesmo efeitos sobre a mortalidade e novos eventos cardiovasculares. No entanto, continua a ser subutilizada em Portugal, com taxas de referenciação de doentes muito inferiores à média europeia.





O que é a RC?




É todo o processo de desenvolvimento e de manutenção de um nível desejado de actividade física, social e psicológica, após a doença se ter desencadeado. Estudos de metanálises demonstram que os programas de RC baseados no exercício reduzem a mortalidade total em 27% e mortalidade cardíaca em 31%. Actua, ainda, beneficamente ajudando ao controlo dos factores de risco tradicionais, tais como a resistência à insulina, diabetes mellitus, obesidade, dislipidemia e hipertensão. Promove a redução de comportamentos de risco, nomeadamente a cessação tabágica, alimentação saudável e gestão de stresse.





Qual o objectivo de um programa de reabilitação cardíaca (PRC)?




O principal objectivo do PRC é aumentar a qualidade de vida, manter e optimizar a capacidade funcional do paciente, reduzir o risco de doenças cardiovasculares através do exercício físico, educação e aconselhamento. Mas para que os benefícios sejam duradouros, os pacientes têm de ser responsáveis por um estilo de vida saudável e reduzir os factores de risco.





A quem se destina?




Existe uma crença errada de que, após um evento cardíaco, a pessoa deve limitar a sua actividade física, de forma a evitar a recidiva. Os profissionais de saúde devem aconselhar os seus doentes de uma forma simples e pragmática acerca do estado de saúde. Os PRC, inicialmente desenvolvidos nos anos 60, destinavam-se a doentes com enfarte do miocárdio não-complicado. Mais recentemente, o leque de candidatos alargou-se, incluindo, actualmente, doentes submetidos a revascularização coronária, com angina estável, doença arterial periférica, doença valvular, insuficiência cardíaca, portadores de pacemakers ou CDI, ou transplante de coração.






E o médico de família?



O médico de família deve saber que o programa de RC é uma resposta global às necessidades de Saúde do seu doente. Deve envolver os seus familiares mais próximos, para que o doente devidamente enquadrado tenha mais capacidade de fazer escolhas correctas e mantê-las em relação ao estilo de vida, alimentação e observância da terapêutica farmacológica. No capítulo da actividade física o médico de família deverá incentivar os seus doentes, numa fase de estabilidade clínica, a serem activos e realizarem pelo menos 30 minutos de actividade aeróbia na totalidade ou na maior parte dos dias da semana, combinando com treino de força e flexibilidade. De facto, a combinação de exercício com intervenção psicológica e educacional constitui a metodologia mais eficaz de reabilitação cardíaca. Há maior tendência para se frequentar um PRC quando se é referenciado pelo médico assistente.





Realidade portuguesa




Em Portugal só 1,8% dos potenciais candidatos são incluídos nos programas de RC. Os programas de RC deveriam ser implementados “obrigatoriamente”, devendo ser considerados uma peça fundamental para se prestarem cuidados de Saúde de qualidade aos doentes de maior risco e em quem o SNS muito investiu no decorrer do internamento hospitalar. Devido aos benefícios em mortalidade e morbilidade, aliada a um custo/benefício favorável, há muito que a tutela deveria ter implementado o aparecimento de centros de reabilitação cardíaca nas principais hospitais. Por outro lado, necessitamos de apostar em formação e de ter alguns meios económicos para que a actividade da RC se possa desenvolver.




Dr. Jorge A. Ruivo


Medicina Desportiva


Club Clínica das Conchas




Fonte: Jornal do Centro de Saúde

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