Cláudia Pinto
A equipa do Jornal do Centro de Saúde preparou este mês um artigo especial sobre a pílula, de forma a desmistificar alguns mitos que muitas mulheres ainda têm.
Saiba o que é realmente verdade e aquilo que não passa de boato relativamente à eficácia da pílula enquanto método contraceptivo.
Recebemos diariamente algumas dúvidas de leitoras no nosso consultório bem-estar sexual e decidimos reunir três especialistas que respondem às questões mais frequentes:
A pílula engorda? Diminui a fertilidade? O que fazer quando me esqueço de tomar a pílula? Estas e outras dúvidas são respondidas neste artigo pelo Prof. José Martinez de Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), pelo Dr. Daniel Pereira da Silva, director do serviço de ginecologia do Instituto Português de Oncologia e pela Dra. Lisa Vicente, ginecologista, obstetra e voluntária da Associação de Planeamento para a Família (APF).
“A pílula actua inibindo a ovulação. Não havendo ovulação, não há gravidez”, explica o Dr. Daniel Pereira da Silva. O presidente da SPG acrescenta que “este método contraceptivo torna o muco cervical espesso e intransponível aos espermatozóides e o endométrio (uterino) não receptivo, existindo ainda interferência na motilidade das trompas”. Fica assim facilmente explicado o melhor benefício da pílula que passa por “permitir que as mulheres e os casais evitem uma gravidez quendo não o desejem”, fundamenta a Dra. Lisa Vicente.
Um casal pode assim planear quando pretende ter filhos. No entanto, os benefícios da pílula não se ficam por aqui. “Para além dos efeitos contraceptivos, diminui as dores menstruais, diminui o fluxo de sangue perdido em cada menstruação, melhora o acne e o excesso de pêlos nas mulheres que sofrem destas alterações”, acrescenta a ginecologista da APF.
O que fazer quando se esquecer de tomar a pílula
A Dra. Lisa Vicente deixa algumas dicas úteis para não se esquecer de
tomar a pílula ou para enfrentar possíveis esquecimentos:
tomar a pílula ou para enfrentar possíveis esquecimentos:
- A melhor forma de não se esquecer de tomar a pílula é associar este hábito a outro que já tenha diariamente. Por exemplo, escovar os dentes à noite. Colocar a embalagem num copo com a escova e a pasta de dentes, pode ser uma boa ideia. A toma à noite tem a vantagem que na manhã seguinte ainda tem uma nova hipótese de se voltar a lembrar, quando voltar a escovar os dentes... Um alarme no telemóvel também pode ser outra ideia.
- Se tomar a pílula fora da hora habitual, mas ainda durante as doze horas seguintes, deve-se tomar nessa altura a pílula esquecida e a seguinte na hora habitual. Mesmo que a isto corresponda tomar duas pílulas no mesmo dia.
- Se o esquecimento ultrapassar as doze horas, deve-se continuar a tomar a embalagem normalmente. Porém, durante os sete dias seguintes (sem novos esquecimentos) tem de ter também outro cuidado contraceptivo. Por exemplo, o preservativo.
E se vomitar?
Quando se vomita nas duas-três horas seguintes à toma da pílula, ela pode não ter sido absorvida. Nesse caso, aguarda-se deixar de vomitar e toma-se uma nova pílula dentro do período de doze horas seguintes. Se isto não for possível, considera-se a pílula “esquecida” e procede-se como se explicou anteriormente.
Quando se toma antibióticos ou se tem diarreia
Não se pára a embalagem da pílula, mas enquanto durarem estes acontecimentos, tem de se utilizar também outro método contraceptivo.
Se já toma a pílula e vai começar um novo tratamento, deve sempre perguntar ao seu médico se irá diminuir a eficácia da contracepção.
Como lidar com a diferença horária de vários países em caso de viagem?
Se precisar de viajar, saiba que “a interferência das diferenças horárias só é importante para viagens de muito longo curso. Assim se o dia ficar encurtado dever-se-á manter o esquema adequado à hora local. Se pelo contrário o dia resultar alongado (oito ou mais horas) pode fazer-se um ajuste progressivo antecipando a toma de algumas horas e ir retardando ao longo dos dias seguintes”, explica o Prof. José Martinez de Oliveira.
Os mitos e a verdade
Reunimos uma série de questões que nos têm sido colocadas e perguntámos ao Prof. José Martinez de Oliveira e ao Dr. Daniel Pereira da Silva o que é realmente verdade e aquilo que ainda é um mito, mas bastante credível, para muitas mulheres. Acabe com as dúvidas e fique completamente esclarecida!
A pílula engorda – Mito
A pílula não engorda. Em estudos com alguma dimensão, verifica-se que cerca de 80 por cento das utilizadoras não sofrem qualquer alteração do peso; cerca de 10 a 15 por cento engordam e cerca de 5 a 10 por cento emagrecem. A pílula não é anabolizante e não aumenta o apetite, na grande maioria dos casos.
As mulheres que aumentam de peso com a pílula, engordam com muita facilidade e todas as razões são invocadas para o justificar. O aumento ponderal devido à gordura pode ocorrer em algumas mulheres por razões variadas mas fundamentadas numa sensibilidade individual.
A pílula tem efeitos secundários – Verdade
Não há nenhum fármaco que não tenha efeitos secundários potenciais, mas a pílula é muito bem tolerada. As moléculas que se usam actualmente são muito seguras e as doses muito mais baixas que no passado.
A pílula de hoje quase não tem efeitos secundários, é o método contraceptivo mais eficaz para evitar a gravidez não desejada e preservar a fertilidade para quando o casal o desejar. Nada existe que não tenha inconvenientes. Contudo, os benefícios da pílula ultrapassam largamente os seus eventuais riscos e defeitos.
A pílula é eficaz a 100% - Mito
Não há métodos contraceptivos reversíveis, que sejam 100% eficazes. A pílula desde que seja tomada com rigor, sem falhas e sem esquecimento atinge a eficácia total, desde que não haja vómitos, diarreia e não se usem outros medicamentos associados que interfiram na sua segurança.
O problema é que, não raras vezes, a mulher atrasa a toma do comprimido ou esquece-se de o fazer e continua a ter relações como se estivesse protegida. É incrível a frequência e a inconsciência com que o fazem.
Em teoria diríamos que é quase 100% eficaz, sendo a taxa inferior a uma em mil. Porém, deve pensar-se que o uso prático se faz em pessoais reais com os seus despistes e esquecimentos. A eficácia corrente é pois muito inferior.
A pílula diminui a fertilidade - Mito
Não, a pílula é o método reversível que melhor preserva a capacidade fértil da mulher. As infecções, causa frequente de esterilidade, são menos frequentes na mulher que toma a pílula. Os tumores do ovário são também menos frequentes na mulher que toma a pílula.
O tabaco reduz a eficácia da pílula – Mito com precaução
O tabaco não reduz a eficácia da pílula, mas a associação pílula/tabagismo é perigosa, porque a pílula potencializa os efeitos nocivos do tabaco no sistema cardiovascular. Com a associação, o enfarte do miocárdio é mais frequente. A combinação do tabagismo com a pílula potencia o respectivo risco de acidentes vasculares e tromboembólicos.
A pílula diminui a libido - Mito
É outro grande mito. Há uma minoria de casos onde isso se verifica. Se aprofundarmos a história dessas mulheres vamos constatar que um elevado de casos o desempenho sexual já não era muito satisfatório, já havia disfunção que não era tão valorizada. A pílula pode ser um pretexto e como tal, mudar de marca, via de administração ou de método pode ajudar.
Ainda tem dúvidas?
Ligue para a “Linha Opções” da APF
É uma linha telefónica de ajuda, informação e aconselhamento que procurará prestar formação e aconselhamento especializado sobre gravidez não desejada e métodos contraceptivos.
Funciona de 2ª a 6ª feira entre as 12h00 e as 20h00, através do número 707 220 249
Funciona de 2ª a 6ª feira entre as 12h00 e as 20h00, através do número 707 220 249
Fonte: Jornal do Centro de Saúde