Sunday, July 20, 2008

INFERTILIDADE: IDENTIFICAR OS FACTORES, ESTABELECER UM PROGNÓSTICO E DEFENIR UMA METODOLOGIA TERAPÊUTICA MAIS ADEQUADA





Dr. Alberto Barros




A infertilidade conjugal, definível como a ausência de gravidez após um ano de actividade sexual regular sem qualquer prática contraceptiva, é uma realidade crescente, envolvendo cerca de 15% dos casais em idade procriativa, assumindo a sua resolução cada vez maior importância social e não apenas individual, atendendo à diminuição dramática da taxa de fertilidade que, em Portugal, já será inferior a 1,4.




O estudo do casal infértil tem como objectivos fundamentais identificar os factores de infertilidade, estabelecer um prognóstico e definir a metodologia terapêutica mais adequada, devendo os casais ser informados de que, apesar dos enormes avanços científicos e técnicos, não é possível diagnosticar a causa em cerca de 5 a 10% dos casos, permanecendo um longo e árduo caminho para que os múltiplos factores que podem resultar em infertilidade sejam integralmente conhecidos, compreendidos e vencidos.



A primeira abordagem terapêutica deve privilegiar a metodologia mais simples, mais fisiológica e menos intervencionista, desde que proporcione uma perspectiva de sucesso minimamente consistente.



A terapêutica mais simples é a Estimulação da Ovulação, em que a doente é submetida a uma estimulação hormonal suave dos ovários, controlada ecograficamente, de modo a ajustar a dosagem do medicamento e a definir o dia em que irá ocorrer a ovulação, o que permitirá esclarecer o casal relativamente aos períodos mais indicados para terem relações sexuais.



Se a indução da ovulação não permitir alcançar a gravidez, ou se o estudo realizado ao casal não legitimar a tentativa de resolver o problema da forma mais simples, estará indicado o recurso à Reprodução Medicamente Assistida: inseminação artificial intra-uterina, fertilização in vitro (FIV) e fertilização in vitro com micro-injecção intracitoplasmática (ICSI).



A ICSI veio permitir criar legítimas expectativas de gravidez em muitos casais que, anteriormente, só teriam uma solução reprodutiva no domínio do "milagre biológico" ou no recurso a espermatozóides de dador, nomeadamente em casos de azoospermia (ausência de espermatozóides no esperma - por obstrução à passagem dos espermatozóides ou quando a produção de espermatozóides nos testículos está gravemente atingida, mas subsistem alguns focos), incapacidade de ejaculação (p. exemplo, em paraplégicos, com colheita de espermatozóides por estimulação eléctrica com sonda endorectal ou por biopsia testicular), ejaculação retrógrada (em que o esperma vai para a bexiga, não se exterioriza, recolhendo-se os espermatozóides na urina através de micção após masturbação), anomalias extremamente graves do número, morfologia ou motilidade dos espermatozóides, doentes seropositivos (após a respectiva "lavagem" dos espermatozóides),...



Apesar da taxa de sucesso ser limitada e variável em função de múltiplos parâmetros, o fantástico poder de intervenção proporcionado pela prática competente da FIV e da ICSI pode proporcionar uma probabilidade média de gravidez, de 30 - 40%.



A exaltação final à competência rigorosa dos profissionais, não só nos actos que praticam mas também na informação que divulgam, e às medidas profiláticas decorrentes dos comportamentos da população (por exemplo, práticas de vida saudável e as senhoras iniciarem as tentativas de gravidez antes dos 30 anos) justifica-se pela possibilidade real de não acrescentar factores de insucesso aos muitos de ordem biológica já inevitavelmente existentes, tantas vezes inimigos desconhecidos ou de combate infrutífero.




1 - Microinjecção do espermatozóide no interior do ovócito.


2 - Ovócito fecundado (observam-se os dois núcleos - o do ovócito e o do espermatozóide).~


3 - Embrião com 8 células (3º dia de desenvolvimento).


4 - Embrião no 5º dia de desenvolvimento: fase de blastocisto.


5 - Eclosão do embrião (saída do embrião do seu envólucro).


Dr. Alberto Barros,Professor Catedrático de Genética Médica,


Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)




Fonte: Saúde em Revista

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