Dr. J. Pinheiro Torres
O desgaste da superfície dentária é comum a todos os indivíduos com dentes naturais, e considerado um processo fisiológico.
A causa caracteriza-se pela combinação de basicamente três processos – erosão, atrição e abrasão. A atrição define-se pelo desgaste das su-perfícies mastigatórias, tornando-as mais planas, pela sua interacção.
A erosão é causada por ácidos provenientes da dieta ou do estômago, que agravam o processo de atrição/ero-são, e formam lesões que tipicamente ocorrem nas faces in-ternas e externas dos dentes.
Os ácidos, quando combinados com atrição ou abrasão, têm um potencial de desgaste muito significativo. Os sinais clínicos iniciam-se por uma perda do brilho do dente, seguindo-se um aplanamento das estruturas convexas, tornando-se mesmo concavas e em forma de meia lua, se for mantida a exposição a ácidos.
Este desgaste vai reduzindo a espessura do esmalte, expondo a camada de dentina subjacente e alterando a cor de branco para amarelo, cor típica da dentina.
Os ácidos provenientes do estômago são factor de risco im-portante para o desenvolvimento da erosão ácida, o qual deve ser tomado em conta.
A principal causa é o refluxo gastro-esofágico (ansiedade, gravidez, etc.), fortemente associado com o desgaste dos dentes superiores, pela face interna. Outras causas são a regurgitação por vómito, como o abuso de álcool, bulimia e etc.
A frequência de alimentos e bebidas ácidas, e de como elas são consumidas é importante na erosão dentária. Estudos realizados no Reino Unido concluem com preocupação que, apesar de existirem certos códigos de conduta pela “Indepen-dent Television Commission for Children’s Advertising”, muitos dos produtos promovidos durante os programas para crianças são potencialmente agressivos para a saúde dentária.
Relacionado ainda com a dieta, foram também testados vá-rios chás de fruta, comprovando-se serem, na generalidade, altamente ácidos e capazes de desgastar a superfície dentária.
Certos grupos podem também ser considerados de risco, como algumas indústrias químicas e enólogos. Existe uma minoria de casos reportados associando actividades despor-tivas com erosão ácida.
A causa pode estar relacionada com a exposição directa a ácidos (natação), a exercícios que im-pliquem contracções musculares intensas, podendo promover o refluxo gastro-esofágico, ou a certas bebidas vulgarmente utilizadas por atletas.
A progressão do desgaste dentário é lenta e com períodos de actividade e inactividade. Apesar de poderem ser tratadas estas lesões provocadas por ácidos, através de restaurações dentárias, a prevenção e monitorização acaba por ser a estra-tégia mais importante na manutenção da vitalidade dentária.
J. Pinheiro Torres,
Director clínico da Clínica Pinheiro Torres,
master em Implantologia pela Universidade de Gotemburgo
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Fonte: Saúde em Revista