Dra. Filomena Azevedo
O Herpes Labial (HL) é uma doença muito frequente causada pela infecção por um vírus do grupo dos Herpes Simples. Destes existem vários tipos, sendo geralmente o de tipo 1 o causador no caso do HL, enquanto o de tipo 2 é mais frequente nas infecções herpéticas que se localizam na área genital.
Cerca de 90% dos indivíduos entre os 20 e os 40 anos têm anticorpos para o Herpes Simples tipo 1, o que significa que já tiveram contacto com o vírus.
A transmissão do vírus por uma pessoa infectada pode ocorrer quando existem as lesões, mas por vezes também quando não há sintomas. O contágio acontece geralmente por contacto directo com saliva e objectos contaminados.
Depois da primeira infecção pelo vírus Herpes Simples algumas pessoas ficam imunes, mas 20 a 45% têm recorrências. Cerca de 7% da população geral tem pelo menos dois episódios por ano.
Manifestações e sintomas Primo-infecção
Na primeira crise de HL, a primo-infecção, o vírus replica no local de contágio na pele e os sintomas iniciam-se cerca de 3 a 7 dias com mal-estar, perda de apetite, febre, gânglios linfáticos aumentados, dor e ardor localizados. Surgem então as lesões que são vesículas e pústulas agrupadas numa área de pele vermelha.
Depois formam-se crostas que cicatrizam em 7 a 14 dias. Os lábios e a boca são os locais mais afectados, mas podem também atingir as gengivas e a orofaringe, dificultando a alimentação. Sobretudo nas crianças a primo--infecção pode ter grande exuberância.
Latência
Entretanto o vírus caminha através do nervo até a um gânglio nervoso da região, ficando latente por períodos de tempo variáveis até reactivação.
Infecção recorrente
O reaparecimento das lesões da pele pode acontecer espontaneamente ou provocado por vários estímulos como o stress, luz solar, traumatismos, menstruação, infecções ou febre.
Surge geralmente no bordo do lábio, mas pode ser à volta da boca, no nariz ou bochecha. Geralmente a pessoa sente antes ardor ou prurido no local, podendo não passar desta fase, mas geralmente antes de 24 horas surgem as manifestações de HL. Este em regra é menos exuberante e menos sintomático que a primo-infecção e cicatriza em 7 a 10 dias.
As recorrências parecem ser menos frequentes depois dos 35 anos.
É de notar que tanto a primo-infecção como as recorrências podem não ter sintomas e portanto passar desapercebidas.
Diagnóstico
O diagnóstico de HL é geralmente fácil pelo aspecto e sintomas das lesões e da sua história. Raramente será necessário efectuar análises específicas para determinar qual o tipo de vírus é o responsável, que como referido anteriormente é mais frequentemente o Herpes Simples tipo 1.
O diagnóstico diferencial faz-se sobretudo com as aftas.
Tratamento
O tratamento da infecção herpética não é curativo mas pretende limitar a crise e diminuir a transmissão. Deve ser iniciado o mais precocemente possível no primeiro dia para uma melhor eficácia e pode ser feito com anti-víricos orais, como o aciclovir ou o valaciclovir.
Na primo-infecção será também necessário tratar a dor e outros sintomas.
A pomada de aciclovir só poderá ser útil em lesões limitadas, devendo ser aplicada com cotonete.
Se as crises forem ligeiras e pouco sintomáticas pode não se efectuar nenhum tratamento.
Prevenção
A prevenção do aparecimento das crises começa por tentar reduzir os factores desencadeantes. Assim se, por exemplo, a exposição solar for um factor importante deverá ser feita adequada protecção solar, para diminuir o risco.
Se as crises forem muito frequentes e incomodativas pode fazer-se o tratamento contínuo com os antivíricos orais durante meses na tentativa de as impedir. Mas mesmo sob este tratamento elas podem surgir e quando o tratamento é interrompido as crises reaparecem.
Também é importante prevenir o contágio mas apesar do risco de transmissão ser maior quando há os sintomas, também pode existir libertação do vírus em fases assintomáticas. Quando existem lesões os doentes devem lavar as mãos, evitar beijar e não partilhar objectos contaminados.
Estão em estudo vacinas específicas mas ainda não evidenciaram eficácia na prevenção ou tratamento.
Dra. Filomena Azevedo,
Directora do Serviço de Dermatologia e Venereologia
do Hospital de S. João, E.P.E.