Andreia Pereira
Estima-se que, em Portugal, perto de 100 mil pessoas sofram de doença celíaca. Os sintomas desta patologia, que se caracteriza pela intolerância ao glúten, nem sempre se manifestam nos primeiros anos de vida, pelo que, em alguns casos, só na idade adulta, se consegue confirmar o diagnóstico.
O Centro de Medicina Laboratorial Dr. Germano de Sousa (CML) realizou, no passado dia 17 de Abril, em Lisboa, o primeiro Workshop de diagnóstico em Gastrenterologia. Nesta sessão, os participantes debateram, entre outros temas, as dificuldades e os avanços actuais no diagnóstico da doença celíaca.
«Desde há dois anos a esta parte, o CML tem-se centrado na promoção de eventos científicos de qualidade, que abordem questões pertinentes e actuais na esfera da colaboração clínico-laboratorial, onde se insere o diagnóstico da doença celíaca», afirma a Dr.ª Maria José Rego de Sousa, patologista clínica.
A doença celíaca é uma patologia que consiste na intolerância ao glúten, uma proteína presente em alguns alimentos, nomeadamente no trigo, na cevada e no centeio. O número de casos desta doença tem vindo a aumentar um pouco por toda a Europa. E, nesta matéria, Portugal, não é excepção. Embora não se conheçam as estatísticas exactas (há um número de doentes subdiagnosticados), calcula-se que perto de 100 portugueses sofram da doença celíaca.
Por norma, esta patologia manifesta-se nos primeiros anos de vida. Porém, em certos casos, «os sintomas têm início já na idade adulta, por volta da segunda ou terceira década de vida», esclarece o Dr. Luís Novais, gastrenterologista do Instituto do Coração. «Os descendentes de celíacos e os familiares em segundo grau têm uma maior probabilidade de desenvolver esta patologia», motivo pelo qual o especialista aconselha a realização de um diagnóstico precoce neste grupo de pessoas.
Esta patologia, como refere o Prof. Paulo Ramalho, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, «é uma das maiores causas da síndrome de má absorção na criança». Por envolver o intestino delgado – o órgão responsável pela absorção – os doentes podem «apresentar um quadro de má progressão do peso e atraso do crescimento, uma barriga distendida e, por vezes, anemia».
«Note-se que a doença celíaca tem aspectos que, clinicamente, passam desapercebidos na maioria dos casos, porque não surgem logo à cabeça como sintomas desta patologia», esclarece o Prof. Germano de Sousa. Em determinadas circunstâncias, por não haver um quadro típico, os sintomas são «rotulados como inespecíficos, o que dificulta a sua detecção e despiste», explica Maria José Rego de Sousa.
O diagnóstico precoce «vai permitir a introdução atempada da terapêutica», que, no caso concreto da doença celíaca, «implica a adopção de uma dieta sem glúten». Deste modo, a exclusão desta proteína da alimentação vai permitir «o restabelecimento do bem-estar perdido», continua a patologista clínica. Perante um diagnóstico positivo da análise de sangue, o doente deverá, ainda, ser submetido a uma biopsia ao intestino delgado: um exame que confirma a existência de doença celíaca.
Durante esta sessão, a Prof.ª Isabel Polanco apresentou a experiência espanhola da doença celíaca. Segundo conta esta especialista, o país vizinho, tem uma prevalência estimada em 1%. «Esta doença continua a ser subdiagosticada, devido ao desconhecimento da grande variedade de sintomas que apresenta clinicamente.»
Assim, para conhecer o real número de casos, será colocado em marcha, já a partir do próximo mês de Junho, em Madrid, um programa de rastreio populacional de larga escala, que visa a realização de um diagnóstico precoce em grupos de risco (familiares de primeiro grau de doentes celíacos ou portadores de patologias auto-imunes). Os médicos de Medicina Geral e Familiar podem, deste modo, solicitar a realização de exames de confirmação de doença celíaca, quando confrontados com um diagnóstico de suspeita.
Fonte: Jornal do Centro de Saúde