Andreia Garcia
O Hospital Egas Moniz realiza a primeira cirurgia para tratar a espasticidade a duas crianças com paralisia cerebral, de forma a melhorar a sua qualidade de vida. Estima-se que 80 entre cada 100 pacientes de paralisia cerebral têm espasticidade, que se caracteriza pela rigidez muscular que dificulta ou impossibilita o movimento, em especial dos braços e dos membros inferiores.
Até ao momento, nenhum hospital em Portugal realiza esta cirurgia a crianças com menos de 16 anos, o que acentuou a lista de espera da Federação Portuguesa de Associações de Paralisia Cerebral (FPAPC). Mais de 100 crianças com indicação para esta intervenção cirúrgica estão à espera que o seu problema seja resolvido, alerta a Dra. Graça Andrada, presidente da FPAPC, que acrescenta " Estamos a negligenciar os cuidados às crianças com paralisia cerebral, no nosso país, em comparação com o que se passa noutros países da União Europeia e nos Estados Unidos".
A cirurgia de tratamento da espasticidade consiste na colocação de uma pequena bomba de infusão de medicamento, implantada por baixo da pele do abdómen e que administra continuamente doses de medicação de forma precisa, de forma a permitir o controlo da espasticidade do doente.
Como o medicamento é administrado directamente no local onde este é necessário diminui a possibilidade de ocorrência de efeitos secundários como náuseas, vómitos, sonolência, confusão, problemas de memória e de atenção, e é muito mais eficaz que a medicação oral.
A bomba de infusão de medicamento implantada diminui a frequência dos espasmos, dor, fadiga, aumenta a mobilidade do doente e pode melhorar as suas funções e actividades diárias. Se for disponibilizada no momento certo, esta terapia pode reduzir as necessidades de cirurgias ortopédicas futuras.
De acordo com a Dra. Graça Andrada, esta terapia permite que algumas crianças possam ter uma qualidade de vida melhor e, se for realizada entre os 6 a 12 anos, evita também as deformidades quando se tornam adultas. Desta forma, ao permitir o acesso a esta cirurgia, estaremos a prevenir complicações futuras que, para além do sofrimento humano, obrigam a custos superiores em medicação, cirurgias ortopédicas e reabilitação.
Os sintomas da espasticidade podem variar desde uma leve contracção até uma deformidade severa. A impossibilidade de controlar os músculos voluntários poderá aumentar o grau de dificuldade para realizar actividades diárias tais como vestir, comer, escovar os dentes ou os cabelos, e portanto, reduzir a funcionalidade e participação da criança, jovem e adulto com paralisia cerebral.
A paralisia cerebral caracteriza-se por uma perturbação do controlo da postura e movimento, como consequência de uma lesão cerebral que atinge o cérebro em período de desenvolvimento. Todos os anos surgem aproximadamente 200 a 250 novos casos de paralisia cerebral em Portugal.
Fonte: YoungNetwork